quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Jaguar (* 29 de fevereiro de 1932 - )

Há 80 anos, em 29/2/1932, nasceu no Rio de Janeiro o cartunista Sérgio de Magalhães Gomes Jaguaribe, o Jaguar.

Ele começou sua carreira em 1952 na revista Manchete e, em 1969, lançou com os jornalistas Tarso de Castro e Sérgio Cabral o semanário O Pasquim, reconhecido por seu papel de oposição ao regime militar.

Em 5 de abril de 2008, Jaguar e outros vinte jornalistas que foram perseguidos durante os "anos de chumbo" tiveram seus processos de anistia aprovados pela Comissão de Anistia do Ministério da Justiça. Ele e o cartunista Ziraldo receberam as maiores indenizações: 1 milhão de reais cada um.


Você sabia que sua obra "Ninguém É Perfeito", lançada em 2008 no Brasil, foi publicada pela primeira vez na Argentina, em 1973?

Jaguar diz no texto introdutório de "Ninguém É Perfeito" que seu livro de cartuns tem uma história de publicação mais interessante que os desenhos de humor nele contidos.

A declaração pode aparentar um ar modesto do velho cartunista.

Pode até ser. Mas, de fato, os bastidores da obra são tão -ou mais- saborosos quanto o conteúdo dela.

                                                              ***
A concepção do livro de cartuns teve início em 1972, pelas mãos de um editor argentino.

Ele convidou Jaguar para publicar alguns de seus cartuns em uma coleção que se propunha a dar um panorama dos autores do humor gráfico latino-americanos.

O cartunista, na época editor de humor do "Pasquim", diz que entregou um punhado de desenhos.

Dois meses depois foi convidado para o lançamento, em Buenos Aires.

                                                              ***

No lançamento, já em 1973, teve a oportunidade de conhecer os principais nomes dos quadrinhos da Argentina.

Viu de Fontanarosa a Quino, o eterno pai de Mafalda, personagem que prefacia a obra (trata-se de um comentário de Mafalda, em um balão, sobre o trabalho do brasileiro).

O contato -diz Jaguar na introdução da obra- rendeu amizades mantidas até hoje. E pelo menos uma mais uma boa história.

                                                             *** 

O brasileiro conta que aconselhou Quino a parar de produzir as tiras de Mafalda.

"Insisti que se continuasse desenhando a Mafalda endureceria seu traço. História em quadrinhos e cartum são incompatíveis; na minha opinião, o cara tem de optar."

Uma semana depois, Quino parou de produzir a personagem.

"É claro que não o levei a isso", acrescenta Jaguar, na introdução. "[Quino] Já deveria estar remoendo essa ideia e o meu palpite talvez tenha sido a gota d'água."

                                                              ***

O livro -lido pelos brasileiros 35 anos depois do lançamento argentino- traz o estilo característico e provocativo dos desenhos de Jaguar.

O título seria o elo comum entre todos os cartuns. "Ninguém é perfeito", segundo o cartunista. "Mas poderia ser pior", faz questão de acrescentar.

A obra segue raciocínio semelhante. Poderia ser perfeita. Mas a história por trás dela é melhor. É, Jaguar, você acerta. Poderia ser pior.



quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

16 de fevereiro: Dia do Repórter



Jornalistas revelam desafios e "saias justas" da profissão

Saia justa de repórter não é só quando a caneta e o gravador falham, ou quando se esquece o nome do entrevistado. Além disso, os desafios da profissão são grandes. Nesta quinta-feira (16/2), dia do repórter, profissionais da rádio CBN, O Globo, Estadão, R7, revista Brasileiros e Rede TV! contam suas experiências.

Para falar sobre as dificuldades da carreira, situações constrangedoras, relacionamento com as fontes, piores tipos de entrevistados e o que ainda falta melhorar na profissão, o Comunique-se ouviu Fabíola Reipert (R7), Ricardo Kotscho (Brasileiros), Jotabê Medeiros (Estadão), Roseann Kennedy (CBN), Chico Otávio (O Globo) e Kennedy Alencar (Rede TV! e ex-Folha de S. Paulo). Acompanhe os depoimentos:

Dificuldades

"A maior dificuldade que um repórter enfrenta é quando mentem, quando tentam enganar ele. Sendo que a gente tem a informação correta" – Fabíola Reipert.

"Desde o salário baixo, que é bem comum na nossa profissão, até processos e ameaças" – Jotabê Medeiros.

“Um dos desafios é mudar de cidade, ter que se afastar da família. Eu já fui para o interior, Curitiba, agora estou em Brasília. No dia a dia é a busca sem descanso do que é falso e verdadeiro” – Roseann Kennedy.

“É o dano moral. É um instrumento da democracia, que eu respeito, mas tornou a nossa vida mais espinhosa. Outra coisa é a falta absurda de cultura da transparência, na área de governo. Essas coisas acabam travando o seu trabalho” – Chico Otávio.

"São 46 anos de carreira, não me lembro de nenhuma em especial. Mas toda matéria é difícil de fazer e tem que ser encarada como a primeira e a última que o repórter fará" – Ricardo Kotscho.

"Cobertura da guerra no Kosovo, em 1999, e a do Afeganistão, em 2001" - Kennedy Alencar.

Saia justa

"A pior saia justa que tem é quando você percebe que a pessoa te vira a cara. Estou fazendo o meu trabalho e vejo muitas pessoas me virando a cara. Já tentaram até me bater" – Fabíola Reipert.

“Foi um dilema ético. Foi a história de um professor de Embu que entrou em contato comigo para dizer que estava estranhando que muitos alunos estavam dormindo na sala de aula. Fui até o local e descobri que esses alunos trabalhavam de madrugada em uma olaria. Conversei com o dono da olaria e ele explicou que não obrigava ninguém a trabalhar, que não tinha funcionários registrados e que os pais dessas crianças que levam elas para trabalhar. Fiquei em dúvida se deveria publicar essa história, até para não prejudicar ainda mais essas crianças. Decidi publicar e não deu outra, no dia seguinte da publicação já tinha a polícia na olaria. Às vezes a gente quer ajudar, mas acaba prejudicando ainda mais" – Ricardo Kotscho.

"Foi em 1998. Fui na casa da Gal Costa, em Trancoso (interior da Bahia), e fomos fazer a entrevista em um restaurante. Na segunda pergunta que fiz, ela começou a gritar, disse que eu não era jornalista. Todos no restaurante pararam para ver ela gritando. Já fui fazer matéria em baile funk e com os skynheads. Mas, essa da Gal foi a maior saia justa que tive na minha carreira" – Jotabê Medeiros.

“Quando eu trabalhava em polícia passei por uma situação investigando um ponto de tráfico em Recife. Chegamos e fomos recebidos por tiros. Descemos pelo lado do córrego, com as costas no chão, cheio de lodo. Deixei de trabalhar em polícia, porque cansei de ser ameaçada de morte e ter que trocar de número de celular” – Roseann Kennedy.

“Quando o presidente da Petrobras, durante uma coletiva de imprensa, disse que eu não era bem vindo na empresa. Eu respondi que ele não era dono da Petrobras pra falar aquilo, que a Petrobras era do povo. Outras situações constrangedoras são quando as redes sociais tentam desqualificar o seu trabalho. Eu passei por isso quando enviaram um e-mail em meu nome para desembargadores” – Chico Otávio.

"Foi minha primeira reportagem para a Folha. Eu era redator e que queria me tornar repórter e me mandaram ir ao hospital que o Jânio Quadros estava internado. Eu era muito foca, 22 anos, entrei sem me identificar como jornalista e fui até o quarto que ele estava, cheguei perto e falei 'uma palavrinha' e ele respondeu 'vá à merda'. Depois disso, ele chamou os seguranças que me retiram do hospital, mas voltei e falei que queria saber se ele estava bem. No final das contas consegui conversar um pouco com o Jânio" - Kennedy Alencar.

Pior tipo de entrevistado

"É a celebridade que acha maior do que é, 'as estrelinhas'. O ruim é que tem gente que quando precisa aparecer na mídia corre atrás de nós. E quando não precisam destratam" – Fabíola Reipert.

"Eu não gosto de celebridades, até de políticos eu tento fugir. Prefiro criar novos personagens, entrevistar pessoas que são desconhecidas" – Ricardo Kotscho.

"É aquele imbuído de autoridade, que quer mostrar e impor isso na entrevista. E isso acontece em várias esferas, não somente na política" – Jotabê Medeiros.

“Não existe pior entrevistado, existe pior momento para entrevistar. O pior momento é quando o repórter tem que fazer cobertura de tragédia e entrevistar a família que perdeu alguém” – Roseann Kennedy.

“Eu sou fã do Luis Fernando Veríssimo, mas ele não é um bom entrevistado. Foi a minha entrevista mais difícil, porque ele é monossilábico, tímido. Não é por má vontade, é o jeito dele. Eu achei que ia ser uma super entrevista, mas não foi” – Chico Otávio.

"O pior tipo de entrevistado é aquele que fala pouco, que se fecha, que tem desconfiança do repórter. E ainda mais na área que cubro, bastidores da política, tem muita gente que não gosta de ouvir perguntas" – Kennedy Alencar.

Pontos a melhorar na profissão

"Melhorar as organizações de eventos, como o São Paulo Fashion Week. Tratam a imprensa como se fosse animal, ameaçam. A imprensa é tratada como intrusa, mas é necessária e merece respeito" – Fabíola Reipert.

"O que precisa mudar é que os repórteres estão indo pouco para a rua. Eles estão ficando muito tempo em frente ao computador, na redação. E na rua, você sai para fazer uma matéria e 'tropeça' em outra" – Ricardo Kotscho.  
"Precisa ser dada maior cobertura ao repórter. O profissional precisa ter mais 'costas quentes'. O repórter é o elo mais fraco da matéria e precisa ser defendido pelos próprios veículos de comunicação. O repórter sofre muita pressão, um exemplo recente é o que aconteceu no jornal baiano (A Tarde)" – Jotabê Medeiros.

"Acredito que existam muito bons repórteres no Brasil, o que precisam fazer é manter a qualidade e não deixar a liberdade de expressão cair”- Roseann Kennedy.

“Mais aposta dos editores nas reportagens, mais espaço no mercado, melhores condições de trabalho” – Chico Otávio.

"Precisa investir na formação e dar oportunidades para quem realmente deseja ser repórter. Acho que a qualidade dos repórteres tem melhorado cada vez mais" – Kennedy Alencar.

Fonte: http://jaeassunto.blogspot.com/2011/02/dia-do-reporter-jornalistas-revelam.html