Há 80 anos, em 29/2/1932, nasceu no Rio de Janeiro o cartunista Sérgio de Magalhães Gomes Jaguaribe, o Jaguar.
Ele começou sua carreira em 1952 na revista Manchete e, em 1969, lançou com os jornalistas Tarso de Castro e Sérgio Cabral o semanário O Pasquim, reconhecido por seu papel de oposição ao regime militar.
Em 5 de abril de 2008, Jaguar e outros vinte jornalistas que foram perseguidos durante os "anos de chumbo" tiveram seus processos de anistia aprovados pela Comissão de Anistia do Ministério da Justiça. Ele e o cartunista Ziraldo receberam as maiores indenizações: 1 milhão de reais cada um.
Você sabia que sua obra "Ninguém É Perfeito", lançada em 2008 no Brasil, foi publicada pela primeira vez na Argentina, em 1973?
Jaguar diz no texto introdutório de "Ninguém É Perfeito" que seu livro de cartuns tem uma história de publicação mais interessante que os desenhos de humor nele contidos.
A declaração pode aparentar um ar modesto do velho cartunista.
Pode até ser. Mas, de fato, os bastidores da obra são tão -ou mais- saborosos quanto o conteúdo dela.
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A concepção do livro de cartuns teve início em 1972, pelas mãos de um editor argentino.
Ele convidou Jaguar para publicar alguns de seus cartuns em uma coleção que se propunha a dar um panorama dos autores do humor gráfico latino-americanos.
O cartunista, na época editor de humor do "Pasquim", diz que entregou um punhado de desenhos.
Dois meses depois foi convidado para o lançamento, em Buenos Aires.
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No lançamento, já em 1973, teve a oportunidade de conhecer os principais nomes dos quadrinhos da Argentina.
Viu de Fontanarosa a Quino, o eterno pai de Mafalda, personagem que prefacia a obra (trata-se de um comentário de Mafalda, em um balão, sobre o trabalho do brasileiro).
O contato -diz Jaguar na introdução da obra- rendeu amizades mantidas até hoje. E pelo menos uma mais uma boa história.
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O brasileiro conta que aconselhou Quino a parar de produzir as tiras de Mafalda.
"Insisti que se continuasse desenhando a Mafalda endureceria seu traço. História em quadrinhos e cartum são incompatíveis; na minha opinião, o cara tem de optar."
Uma semana depois, Quino parou de produzir a personagem.
"É claro que não o levei a isso", acrescenta Jaguar, na introdução. "[Quino] Já deveria estar remoendo essa ideia e o meu palpite talvez tenha sido a gota d'água."
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O livro -lido pelos brasileiros 35 anos depois do lançamento argentino- traz o estilo característico e provocativo dos desenhos de Jaguar.
O título seria o elo comum entre todos os cartuns. "Ninguém é perfeito", segundo o cartunista. "Mas poderia ser pior", faz questão de acrescentar.
A obra segue raciocínio semelhante. Poderia ser perfeita. Mas a história por trás dela é melhor. É, Jaguar, você acerta. Poderia ser pior.