quarta-feira, 22 de maio de 2013

22 de maio: Dia do Abraço


Você sabia que hoje é o Dia do Abraço?
Um abraço pode ser acolhedor ao final de um dia cansativo, ou animador, se dado pela pessoa certa.
Pode afastar o frio ou proteger do medo.
Pode matar as saudades ou relembrar as tristezas.
Todo mundo gosta de um abraço!

Roberto Carlos também gosta e muito, veja como ele retrata os abraços em algumas de suas canções.
Tem abraço de todo o jeito...

Tem abraço de mãe...
"Te pedir que me abrace
E me leve de volta pra casa
Que me conte uma história bonita
E me faça dormir"

Lady Laura


Tem abraço de amigo...
"Você meu amigo de fé, meu irmão camarada
Sorriso e abraço festivo da minha chegada
Você que me diz as verdades com frases abertas
Amigo você é o mais certo das horas incertas"

Amigo


Tem abraço pra você se entregar...
"No seu corpo o meu momento é mais perfeito
E eu sinto no seu peito o meu coração bater
E no meio desse abraço é que eu me amasso
E me entrego pra você"

Seu corpo


Tem abraço que ensina...
"Juro que não sou culpado de nascer pouco depois
Mas recuperar o tempo é problema de nós dois
Devo ter me demorado no meu tempo lá no espaço
O que eu ainda não sei vou saber no seu abraço"

Minha senhora


Tem abraço que nunca deveria terminar...
"Diga-me coisas bonitas
Traga meus sonhos de volta
Me abraça e nunca me solta
E diga que eu fique pra sempre contigo"

Diga-me coisas bonitas


Tem abraço que serve pra recomeçar...
"Chego cansado
Você se aproxima
Me beija, me abraça
Me assanha, me anima
Você é tudo pra mim"

No mesmo verão


Tem abraço pra relembrar...
"Você passou pela rua
E o passado voltou a lembrar seus abraços
E mais uma vez eu te amei
E lembrei de você linda e nua em meus braços"

Mais uma vez


Tem abraço que não se esquece...
"Você foi o maior dos meus casos
De todos os abraços o que eu nunca esqueci
Você foi dos amores que eu tive
O mais complicado e o mais simples pra mim"

Outra vez


Tem abraço que a gente faz de tudo pra esquecer...
"Todas as manhãs quando eu acordo
Eu me lembro de você
Todos os momentos do meu dia
Não consigo te esquecer
Diga meu amor o que é que eu faço
Pra não me lembrar do seu abraço
Eu preciso te esquecer"

Todas as manhãs


Tem abraço pra começar bem o dia...
"Que tal acordar com beijos e abraços
Palavras de amor logo ao amanhecer
De alguém que desperta e fala que te ama
Que rola na cama junto com você"

Romântico


Tem abraço pro meio da noite...
"Vou me perder de madrugada
Pra te encontrar no meu abraço
Depois de toda cavalgada
Vou me deitar no seu cansaço"

Cavalgada


Tem abraço pra antes de dormir...
"Eu te proponho
Na madrugada
Você cansada
Te dar meu braço
No meu abraço
Fazer você dormir"

Proposta


E tem abraço para começar um novo dia...
"E em meus abraços
Na desordem do quarto esperar
Lentamente você despertar
E te amar na manhã"

Café da manhã


Tem abraço que traz alegria...
"Nega
A tristeza logo passa
Chega
Vem correndo, vem, me abraça"

Nega


E tem abraço que faz muita falta...
"Eu não me acostumo sem seus beijos
E não sei viver sem seus abraços
Aprendi que pouco tempo é muito
Se estou longe dos seus braços"

Eu te amo tanto


Não importa o tipo de abraço...
Abrace bastante pois o mais bonito é que não há maneira de dar um abraço sem receber de volta!


sábado, 11 de maio de 2013

Rubem Fonseca (Juiz de Fora-MG, 11/05/1925)




Passeio Noturno - Parte I

Cheguei em casa carregando a pasta cheia de papéis, relatórios, estudos, pesquisas, propostas, contratos. Minha mulher, jogando paciência na cama, um copo de uísque na mesa de cabeceira, disse, sem tirar os olhos das cartas, "você está com um ar cansado". Os sons da casa: minha filha no quarto dela, treinando impostação de voz, a música quadrifônica do quarto do meu filho. "Você não vai largar essa mala?", perguntou minha mulher, "tira essa roupa, bebe um uisquinho, você precisa aprender a relaxar".

Fui para a biblioteca, o lugar da casa onde gostava de ficar isolado e como sempre não fiz nada. Abri o volume de pesquisas sobre a mesa, não via as letras e números, eu esperava apenas. "Você não pára de trabalhar, aposto que os teus sócios não trabalham nem a metade e ganham a mesma coisa", entrou a minha mulher na sala com o copo na mão, "já posso mandar servir o jantar?".

A copeira servia à francesa, meus filhos tinham crescido, eu e a minha mulher estávamos gordos. "É aquele vinho que você gosta", ela estalou a língua com prazer. Meu filho me pediu dinheiro quando estávamos no cafezinho, minha filha me pediu dinheiro na hora do licor. Minha mulher nada pediu, nós tínhamos conta bancária conjunta.

"Vamos dar uma volta de carro?", convidei. Eu sabia que ela não ia, era hora da novela. "Não sei que graça você acha em passear de carro todas as noites, também aquele carro custou uma fortuna, tem que ser usado, eu que cada vez me apego menos aos bens materiais", minha mulher respondeu.

Os carros dos meninos bloqueavam a porta da garagem, impedindo que eu tirasse o meu. Tirei os carros dos dois, botei na rua, tirei o meu, coloquei os dois carros novamente na garagem, fechei a porta, essas manobras todas me deixaram levemente irritado, mas ao ver os pára-choques salientes do meu carro, o reforço especial duplo de aço cromado, senti o coração bater apressado de euforia. Enfiei a chave na ignição, era um motor poderoso que gerava a sua força em silêncio, escondido no capô aerodinâmico. Saí, como sempre sem saber para onde ir, tinha que ser uma rua deserta, nesta cidade que tem muito mais gente do que moscas. Na Avenida Brasil, ali não podia ser, muito movimento. Cheguei numa rua mal iluminada, cheia de árvores escuras, o lugar ideal. Homem ou mulher? Realmente não fazia grande diferença, mas não aparecia ninguém em condições, comecei a ficar tenso, isso sempre acontecia, eu até gostava, o alívio era maior. Então vi a mulher, podia ser ela, ainda que mulher fosse menos emocionante, por ser mais fácil. Ela caminhava apressadamente, carregando um embrulho de papel ordinário, coisas de padaria ou de quitanda, estava lá de saia e blusa, andava depressa, havia árvores na calçada de vinte em vinte metros, um interessante problema a exigir uma grande dose de perícia. Apaguei as luzes do carro e acelerei. Ela só percebeu que eu ia para cima dela quando ouviu o som da borracha dos pneus batendo no meio-fio. Peguei a mulher acima dos joelhos, bem no meio das duas pernas, um pouco mais sobre a esquerda, um golpe perfeito, ouvi o barulho do impacto partindo os dois ossões, dei uma guinada rápida para a esquerda, passei como um foguete rente a uma das árvores e deslizei com os pneus cantando, de volta para o asfalto. Motor bom, o meu, ia de zero a cem quilômetros em nove segundos. Ainda deu para ver que o corpo todo desengonçado da mulher havia ido parar, colorido de sangue, em cima de um muro, desses baixinhos de casa de subúrbio.

Examinei o carro na garagem. Corri orgulhosamente a mão de leve pelos pára-lamas, os pára-choques sem marca. Poucas pessoas, no mundo inteiro, igualavam a minha habilidade no uso daquelas máquinas.

A família estava vendo televisão. "Deu sua voltinha, agora está mais calmo?", perguntou minha mulher, deitada no sofá, olhando fixamente o vídeo. "Vou dormir, boa noite para todos", respondi, "amanhã vou ter um dia terrível na companhia". 


Passeio Noturno - Parte II

Eu ia para casa quando um carro encostou no meu, buzinando insistentemente. Uma mulher dirigia, abaixei os vidros do carro para entender o que ela dizia. Uma lufada de ar quente entrou com o som da voz dela: Não está mais conhecendo os outros?

Eu nunca tinha visto aquela mulher. Sorri polidamente. Outros carros buzinaram atrás dos nossos. A Avenida Atlântica, às sete horas da noite, é muito movimentada.

A mulher, movendo-se no banco do seu carro, colocou o braço direito para fora e disse, olha um presentinho para você.

Estiquei meu braço e ela colocou um papel na minha mão. Depois arrancou com o carro, dando uma gargalhada.

Guardei o papel no bolso. Chegando em casa, fui ver o que estava escrito. Ângela, 287-3594.

À noite, saí, como sempre faço.

No dia seguinte telefonei. Uma mulher atendeu. Perguntei se Ângela estava. Não estava. Havia ido à aula. Pela voz, via-se que devia ser a empregada. Perguntei se Ângela era estudante. Ela é artista, respondeu a mulher.

Liguei mais tarde. Ângela atendeu.

Sou aquele cara do Jaguar preto, eu disse.

Você sabe que eu não consegui identificar o seu carro?

Apanho você às nove horas para jantarmos, eu disse.

Espera aí, calma. O que foi que você pensou de mim?

Nada.

Eu laço você na rua e você não pensou nada?

Não. Qual é o seu endereço?

Ela morava na Lagoa, na curva do Cantagalo. Um bom lugar.

Estava na porta me esperando.

Perguntei onde queria jantar. Ângela respondeu que em qualquer restaurante, desde que fosse fino. Ela estava muito diferente. Usava uma maquiagem pesada, que tornava o seu rosto mais experiente, menos humano.

Quando telefonei da primeira vez disseram que você tinha ido à aula. Aula de quê?, eu disse.

Impostação de voz.

Tenho uma filha que também estuda impostação de voz. Você é atriz, não é?

Sou. De cinema.

Eu gosto muito de cinema. Quais foram os filmes que você fez? 

Só fiz um, que está agora em fase de montagem. O nome é meio bobo, As virgens desvairadas, não é um filme muito bom, mas estou começando, posso esperar, tenho só vinte anos. Na semi-escuridão do carro ela parecia ter vinte e cinco.

Parei o carro na Bartolomeu Mitre e fomos andando a pé na direção do restaurante Mário, na Rua Ataulfo de Paiva.

Fica muito cheio em frente ao restaurante, eu disse.

O porteiro guarda o carro, você não sabia?, ela disse.

Sei até demais. Uma vez ele amassou o meu.

Quando entramos, Ângela lançou um olhar desdenhoso sobre as pessoas que estavam no restaurante. Eu nunca havia ido àquele lugar. Procurei ver algum conhecido. Era cedo e havia poucas pessoas. Numa mesa um homem de meia-idade com um rapaz e uma moça. Apenas três outras mesas estavam ocupadas, com casais entretidos em suas conversas. Ninguém me conhecia.

Ângela pediu um Martini.

Você não bebe?, Ângela perguntou.

Às vezes.

Agora diga, falando sério, você não pensou nada mesmo, quando eu te passei o bilhete? 

Não. Mas se você quer, eu penso agora, eu disse.

Pensa, Ângela disse.

Existem duas hipóteses. A primeira é que você me viu no carro e se interessou pelo meu perfil. Você é uma mulher agressiva, impulsiva e decidiu me conhecer. Uma coisa instintiva. Apanhou um pedaço de papel arrancado de um caderno e escrevou rapidamente o nome e o telefone. Aliás quase não deu para eu decifrar o nome que você escreveu.

E a segunda hipótese?

Que você é uma puta e sai com uma bolsa cheia de pedaços de papel escritos com o seu nome e o telefone. Cada vez que você encontra um sujeito num carro grande, com cara de rico e idiota, você dá o número para ele. Para cada vinte papelinhos distribuídos, uns dez telefonam para você.

E qual a hipótese que você escolhe?, Ângela disse.

A segunda. Que você é uma puta, eu disse.

Ângela ficou bebendo o martini como se não tivesse ouvido o que eu havia dito. Bebi minha água mineral. Ela olhou para mim, querendo demonstrar sua superioridade, levantando a sobrancelha - era má atriz, via-se que estava perturbada - e disse: você mesmo reconheceu que era um bilhete escrito às pressas dentro do carro, quase ilegível.

Uma puta inteligente prepararia todos os bilhetinhos em casa, dessa maneira, antes de sair, para enganar os seus fregueses, eu disse.

E se eu jurasse a você que a primeira hipótese é a verdadeira? Você acreditaria?

Não. Ou melhor, não me interessa, eu disse.

Como que não interessa?

Ela estava intrigada e não sabia o que fazer. Queria que eu dissesse algo que a ajudasse a tomar uma decisão.

Simplesmente não interessa. Vamos jantar, eu disse.

Com um gesto chamei o maître. Escolhemos a comida.

Ângela tomou mais dois martinis.

Nunca fui tão humilhada em minha vida. A voz de Ângela soava ligeiramente pastosa.

Eu se fosse você não bebia mais, para poder ficar em condições de fugir de mim, na hora em que for preciso, eu disse.

Eu não quero fugir de você, disse Ângela esvaziando de um gole o que restava na taça. Quero outro.

Aquela situação, eu e ela dentro do restaurante, me aborrecia. Depois ia ser bom. Mas conversar com Ângela não significava mais nada para mim, naquele momento interlocutório.

O que é que você faz?

Controlo a distribuição de tóxicos na zona sul, eu disse.

Isso é verdade?

Você não viu o meu carro?

Você pode ser um industrial.

Escolhe a sua hipótese. Eu escolhi a minha, eu disse.

Industrial.

Errou. Traficante. E não estou gostando desse facho de luz sobre a minha cabeça. Me lembra as vezes em que fui preso.

Não acredito numa só palavra do que você diz.

Foi a minha vez de fazer uma pausa.

Você tem razão. É tudo mentira. Olha bem para o meu rosto. Vê se você consegue descobrir alguma coisa, eu disse.

Ângela tocou de leve no meu queixo, puxando meu rosto para o raio de luz que descia do teto e me olhou intensamente.

Não vejo nada. Teu rosto parece o retrato de alguém fazendo uma pose, um retrato antigo, de um desconhecido, disse Ângela.

Ela também parecia o retrato antigo de um desconhecido.

Olhei o relógio.

Vamos embora?, eu disse.

Entramos no carro.

Às vezes a gente pensa que uma coisa vai dar certo e dá errado, disse Ângela.

O azar de um é a sorte do outro, eu disse.

A lua punha na lagoa uma esteira prateada que acompanhava o carro. Quando eu era menino e viajava de noite a lua sempre me acompanhava, varando as nuvens, por mais que o carro corresse.

Vou deixar você um pouco antes da sua casa, eu disse.

Por quê?

Sou casado. O irmão da minha mulher mora no teu edifício.

Não é aquele que fica na curva? Não gostaria que ele me visse. Ele conhece o meu carro. Não há outro igual no Rio.

A gente não vai se ver mais?, Ângela perguntou.

Acho difícil.

Todos os homens se apaixonam por mim.

Acredito.

E você não é lá essas grandes coisas. O teu carro é melhor do que você, disse Ângela.

Um completa o outro, eu disse.

Ela saltou. Foi andando pela calçada, lentamente, fácil demais, e ainda por cima mulher, mas eu tinha que ir logo para casa, já estava ficando tarde.

Apaguei as luzes e acelerei o carro. Tinha que bater e passar por cima. Não podia correr o risco de deixá-la viva. Ela sabia muita coisa a meu respeito, era a única pessoa que havia visto o meu rosto, entre todas as outras. E conhecia também o meu carro. Mas qual era o problema? Ninguém havia escapado.

Bati em Ângela com o lado esquerdo do pára-lama, jogando o seu corpo um pouco adiante, e passei, primeiro com a roda da frente - e senti o som surdo da frágil estrutura do corpo se esmigalhando - e logo atropelei com a roda traseira, um golpe de misericórdia, pois ela já estava liquidada, apenas talvez ainda sentisse um distante resto de dor e perplexidade.

Quando cheguei em casa minha mulher estava vendo televisão, um filme colorido, dublado. 

Hoje você demorou mais. Estava muito nervoso?, ela disse.

Estava. Mas já passou. Agora vou dormir. Amanhã vou ter um dia terrível na companhia.


Os textos acima foram publicados no livro "Os cem melhores contos brasileiros do século", seleção de Italo Moriconi, Editora Objetiva — Rio de Janeiro, 2000, pág. 283.




Passeio Noturno - Parte II (O filme)