Grande dama do samba no Brasil, Dona Ivone Lara completa hoje 90 anos com um certo desalento em relação à profissão. 
Depois de enfrentar desafios como a perda dos pais ainda criança, a luta  contra o preconceito ao ser a primeira mulher a compor um samba-enredo e  se firmar como nome expressivo na música brasileira, ela se queixa de  um desrespeito do mercado fonográfico. 
Dona Ivone diz que seus discos não são mais promovidos pelas gravadoras e têm distribuição restrita. 
No último trimestre, diz ter recebido R$ 74 reais em direitos autorais  pelas músicas executadas no exterior, enquanto está sempre sendo  convidada para shows na França, Japão e Alemanha. 
Com cerca de 15 canções inéditas, feitas nos últimos anos com seu  principal parceiro, Delcio Carvalho, 72, ela não se anima em gravá-las.  "Não apareceu nenhuma boa proposta", diz. 
| Paula Giolito/Folhapress | |
![]()  |  |
| A sambista Dona Ivone Lara, que completa 90 anos desiludida com a profissão, em sua casa no Rio de Janeiro | 
O lamento parte de uma compositora reconhecida nacional e  internacionalmente. Suas músicas já foram gravadas por Gilberto Gil,  Maria Bethânia e Caetano Veloso. 
Composições como "Acreditar" ("A vida foi em frente e você simplesmente  não viu que ficou pra trás...") e "Alguém me Avisou" ("Eu vim de lá, eu  vim de lá pequenininho...") são presença obrigatória nas rodas de samba. 
Para Paulinho da Viola, o que a diferencia é um estilo próprio. "Em  termos melódicos, a música é maravilhosa, algo que qualquer grande  compositor gostaria de fazer. É uma honra tê-la no cenário musical  brasileiro." 
Dona Ivone geralmente cria as melodias e seus parceiros fazem as letras.  Hermínio Bello de Carvalho diz que certa vez lhe entregou alguns versos  e em uma hora já estava pronta a música "Mas Quem Disse que Eu te  Esqueço", inclusive com ajustes na letra que ele fez. 
"Ela é compositora, instrumentista, e uma tremenda passista. Tudo isto a  qualifica para ser a primeira-dama do samba", diz o músico. 
Hoje, mesmo com dificuldade de locomoção após ter fraturado o fêmur e se  recuperando de uma depressão depois da morte do filho, em 2008, ainda  faz shows. 
Em parte, esta atividade tem a ver com questões financeiras, já que  apenas a aposentadoria como funcionária pública e os direitos autorais  não lhe garantem sustento pleno. 
Mas também tem a ver com sua incrível vitalidade. "Não me sinto cansada,  pelo contrário, se eu não fizer nada é que fico chateada com isto, fico  até triste.

Se sua atividade tivesse ver com o ingresso pobre dos aposentados, simplesmente jamais daria salário para ela... Sua vitalidade é exemplar!!! tem que se imitar... Abraço
ResponderExcluir